segunda-feira, 8 de março de 2010
Práticas e inteligência
Todos os amigos e familiares sempre estão alerta no repasse de qualquer conteúdo relacionado com o mundo dos filhos. Certa vez minha mãe trouxe uma edição antiga de uma dessas revistas de grande circulação nacional (não sei se Veja ou Época) que continha uma matéria especial apresentando uma pesquisa onde era revelado que mulheres que eram mães possuíam um maior nível de inteligência emocional e maior aptidão para resolver conflitos de forma mais prática.
È fato que sempre fui uma pessoa bem prática. Sempre fui uma boa articuladora e a minha cuca é desde tempos remotos bem habilitada para receber inúmeras atividades e saber dar conta de todas (ou pelo menos a maior parte delas). Para quem não sabe tive um início de adolescência bem conturbado com a chegada de um bebê em nossas vidas (minha irmã Bruna), inúmeros problemas financeiros e por fim a separação dos meus pais.
Não preciso nem comentar o quanto os dois entraram em parafusos, pois separação sempre é uma coisa complicada, e desde aí eu, por ser a filha mais velha, tive que assumir um papel duro para aquela idade: o de administrar e amarrar todos os lados dessa grande confusão, que era a minha família, e isso tudo bem na época em que eu era quem era para dar os pitís de aborrecente.
Sofrimento teve (e muitos, mas sofrimento mesmo é passar fome!), mas hoje agradeço pelas experiências que passei e sei que elas me deixaram muito mais fortes para a adaptação a essa minha nova vida que se descortina a cada dia trazendo zilhões de novidades. Ter um filho não é fácil. Ter um filho, um marido, uma casa, um trabalho, uma família, muitos amigos, um cachorro, além de estudar, imaginem que é bem mais!
A minha vida parece um verdadeiro jogo de encaixes. Se desejo ir ali comprar um desodorante isso exige de mim uma capacidade enorme de em um milésimo de segundo articular todo um plano de quem vai ficar com o baby enquanto estiver ausente, de pensar se ela vai ter fome no momento, de deixar tudo preparado, de encontrar o melhor caminho para não pegar tanto trânsito, de rever se realmente é só aquilo que necessita no supermercado, de que no caminho eu posso aproveitar o sinal vermelho e marcar o salão da semana, qual o melhor cartão para pagar a compra e por aí vai...
Diante de tudo isso, os dias vão se passando nessa loucura frenética, e vai um, vem outro e o cérebro feminino vai se acostumando em pensar em teia. Pois aí está a porção onde a mulher-mãe desenvolve a sua praticidade. Com tantos pormenores a se resolver, se a gente for se apegar as coisas muito pequenas, ou subjetivar a cor do burro, o mundo perde o controle (se é que nós temos isso). As atividades e os acontecimentos da vida quando se tem um filho exigem ações rápidas, pá-pum, e num piscar de olhos o baby se engasga e você tem que dar um tapão para ele colocar pra fora o que estava sufocando.
Emotions- Já no campo da inteligência emocional nunca fui uma das melhores alunas. No entanto, tive e estou tendo a oportunidade de desenvolver essas aptidões e venho apostando nas notas altas. Talvez esse seja um dos ensinamentos mais válidos que Valentina vem trazendo na mala dela e já consigo aplicar na prática do meu dia, no trabalho, nas relações entre amigos, com a família, marido.
Com um filho, que começa como um bebê, exercitamos primordialmente a nossa intuição. Como uma pessoinha que não fala, não aponta, não tem expressões faciais é entendida por seus pais? Simples, através do desenvolvimento da intuição deles e da leitura ampla de decodificação dos sentimentos e necessidades (fome, carinho, frio, necessidade de limpeza).
O exercício constante e incessante dessa decodificação sentimental nos dá armas para enfrentar muito melhor o mundão lá fora. Certo tempo atrás tivemos uma briga, eu, minha mãe e minha irmã, e mainha se trancou no quarto bem na hora do almoço chorando aos soluços bem no final de semana onde costumamos sentar juntos à mesa. No a.V (antes de Velentina) certamente eu não estaria nem aí, deixaria ela lá, diria que era frescura, almoçaria e tudo certo, mas naquele momento decifrei imediatamente o que ela estava pedindo: ela queria que alguém desse atenção (mesmo que fosse drama) e a chamasse para comer e pronto, tudo estria bem novamente, na paz. Foi o que fiz, do meu jeito, mas fiz, pedi a Bruna que também o fizesse e as coisas se resolveram sem maiores mágoas (o que é bem difícil quando se trata de lidar com duas mulheres tempestivas).
A inteligência emocional também tem me valido para enfrentar os pormenores do trabalho. Avaliar, perceber, como você tem que lidar com cada ser que está ali no escritório também rende menos dor de cabeça e mais produtividade para todos. Ontem mesmo troquei sorrisos e conversinhas engraçadas com uma criatura que tive um arranca-rabo antes de Valentina nascer. Ali também consegui identificar que a pessoa estava indiretamente dizendo, errei e foi feio o que fiz, então vamos deixar isso para lá? Isso tudo sem esperar a clássica “Desculpas”, que pelo perfil não iria sair nunca e que eu, em tempos de outrora, iria morrer dura, seca e amargurada esperando.
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